Entre as paredes brancas da Igreja São José e o novo brilho recém reinaugurado Largo dos Inocentes, a memória do Formigueiro segue viva na voz de quem o viu ao longo da história. A entrega da reconstrução histórica do espaço, na última quarta-feira (8), reuniu moradores que carregam na lembrança as primeiras histórias do lugar.
O novo Largo dos Inocentes agora conta com mais de 900 m² revitalizados, incluindo piso em korodur acessível, paisagismo, cinco luminárias artísticas denominadas “Brotos dos Inocentes”, 10 totens informativos sobre a história de 20 personalidades marcantes, iluminação em LED e a restauração de duas estátuas.
A reconstrução também incluiu a revitalização de duas estátuas em homenagem a duas figuras marcantes da educação no estado: Professora Zaide Soledade e Professor Munhoz, reformadas pelas mãos do artista plástico J. Márcio.
Duas dessas vozes são da homenageada Maria Germinina e Carmen Neri, filha da homenageada dona Nini, mulheres que atravessaram o tempo junto com o Formigueiro. Para elas, o espaço revitalizado é mais do que uma obra: é a prova de que a história das famílias que ali viveram continua pulsando.
“Eu nasci aqui, me criei aqui e só saí quando casei. Pra mim, o Formigueiro é tudo. É a história da minha família. Ver isso agora, depois de tantos anos de abandono, é uma alegria muito grande. Que os jovens tenham cuidado com o que foi feito, que conservem. O Formigueiro é a nossa história”, contou Maria Germina, emocionada.
Dona Germina ao lado do Prefeito e a Primeira Dama, na entrega do Largo dos Inocentes | Foto: Jesiel Braga/PMM
Com 75 anos, Carmen Neri também se diz parte desse chão. Cresceu entre os quintais, as conversas de vizinhos e a presença acolhedora de sua mãe, dona Nini, uma das figuras mais queridas da comunidade.
“Pra mim, o Formigueiro é a minha vida. Nasci e cresci aqui, nesse ambiente de amizade e solidariedade. Minha mãe se criou aqui, meus filhos também, e hoje meus netos e tataranetos frequentam o mesmo lugar. É um legado que atravessa gerações. Ver o Formigueiro florescer de novo é emocionante”, compartilhou.
Carmen representa o legado de sua família para a história de Macapá | Fotos: Jesiel Braga/PMM
Mais do que um espaço físico, o Formigueiro é um território de laços, onde cada pedra e cada lembrança contam uma parte da história de Macapá. “Os jovens de hoje precisam resgatar esse amor no coração, conversar mais, ajudar uns aos outros. É isso que faz o Formigueiro ser especial: o sentimento de família”, acrescentou Carmen.
Ao ouvir histórias como as de Maria Germina e Carmen Neri, entende-se que a reconstrução do Largo dos Inocentes é também a reconstrução da memória afetiva de Macapá. Porque antes de ser um ponto no mapa, o Formigueiro é o lar simbólico de quem viveu e segue vivendo para manter viva a memória e, como compôs Val Milhomem e Joãozinho Gomes “o jeito de ser, do povo daqui…”.
Personalidades homenageadas nos totens informativos:
- Benedicto Antônio Tavares (1868–1941)
- Francisca Luzia da Silva – Mãe Luzia (1854–1954)
- Maria Lopes da Silva – Maria Joana (1893–1970)
- Maria Rosa Tavares de Almeida – Micota (1896–1986)
- Raimunda Tavares da Silva – Tia Mundica (1925–1996)
- Maria de Lourdes Serra Penafort (1927–1989)
- Ursula Evangelista da Costa Cecílio – Tia Ursinha (1915–2005)
- José Maria Chaves – Zé Maria Sapateiro (1924–2019)
- Adélia Tavares de Araújo – Tia Guita (1916–1997)
- Lucimar Araújo Tavares – Tia Luci (1920–2013)
- Militina Epifania da Silva – Milica
- Aristarco Figueiredo Brito (1942–)
- Tereza da Conceição Serra e Silva (1860–1940)
- Janiva de Menezes Nery – Dona Nini (1924–)
- Aurilo Borges de Oliveira (1917–1976)
- José Rosa Tavares (1942–)
- Francisco Castro Inajosa – Mestre Chico (1911–1945)
- Maria Germinina de Mendonça Almeida (1942)
- Cacilda da Cruz Pimentel (1910-1974)
- José Duarte Azevedo – Zé Mariano (1902-1986)
- Professora Zaide Soledade (1934 – 2015)
- Antônio Munhoz Lopes (1932 – 2017)