Estudo é feito por pesquisadores da USP | Foto: Andreia Tavares / PMM
Neste domingo (25), a Prefeitura de Macapá realizou a entrega dos resultados de exames de DNA voltados à identificação da ancestralidade africana e da diversidade genética da população. Os exames são realizados pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a gestão municipal e outros órgãos públicos.
Os exames integram a segunda fase do projeto nacional “DNA do Brasil”, que busca aprofundar o conhecimento sobre as origens dos povos tradicionais brasileiros. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e é considerada fundamental para compreender melhor a diversidade genética da população e seus impactos na saúde.
Cristina Almeida, diretora-presidente do Instituto Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (IMPROIR), disse que esse é um momento emocionante para a cidade. “Além de termos nas mãos algo que vai nos ajudar com nossa saúde, ele também conta de onde viemos e quem faz parte da nossa história”, explicou.
Cristina Almeida, diretora-presidente do IMPROIR | Foto: Andreia Tavares / PMM
Diretora, pesquisadora e participante da pesquisa | Foto: Andreia Tavares / PMM
No Amapá, estima-se que mais de 70% da população tenha ancestralidade africana. Por isso, a pesquisa é tão relevante: além de promover o reconhecimento das origens, também busca entender como o DNA de diferentes regiões do continente africano — como a África Ocidental, Central e Oriental — pode estar ligado a condições de saúde como hipertensão, diabetes e colesterol alto. A pesquisa chegou à conclusão de que 56% da população negra de Macapá possui pressão alta e 43% sofre com obesidade.
Jandira Claudiane, de 82 anos, foi uma das primeiras a receber seu exame, que mostrou que suas origens são africanas, europeias e indígenas. “Eu fico muito feliz. Gostei desse exame porque mostra de onde vieram os meus antepassados. É muito bom saber de onde a gente veio”, comentou a moradora do bairro Santo Antônio da Pedreira.
Jandira Claudiane | Foto: Andreia Tavares / PMM
Jandira tem 82 anos | Foto: Andreia Tavares / PMM
As coletas de DNA foram realizadas em dois momentos: durante a III Semana da África, em maio de 2024, e no 29° Encontro dos Tambores, em novembro do mesmo ano. Ao todo, 365 moradores de Macapá participaram, incluindo representantes de 35 bairros e de 9 comunidades quilombolas: Abacate da Pedreira, Campina Grande, Carmo do Maruanum, Casa Grande, Conceição do Macacoari, Curiaú, Ilha Redonda, Lagoa de Fora e São Pedro dos Bois.
Apesar de ser um exame destinado aos macapaenses, foi tomada a decisão de convidar três moradores da Guiana Francesa para rastrear suas origens. Como a França não permite que seus cidadãos façam tais exames para descobrirem sua ancestralidade, três deles realizaram os testes em Macapá.
Uma dessas moradoras foi Josephine Egalgi, subprefeita da cidade de Remire-Montjoly. “Eu tive a sorte de fazer esse teste em Macapá. É muito importante para uma pessoa saber de onde ela vem. É uma parte da construção do ser humano. Essa é uma parte da minha história que agora não é mais vazia”, comentou a subprefeita.
Pesquisadora da USP e Subprefeita Josephine | Foto: Andreia Tavares/PMM
Maurice Juniel, de 71 anos, também foi um dos que recebeu seu exame e disse se sentir feliz em ter uma parte de sua história nas mãos. “Saber de onde a gente vem faz parte da nossa construção como pessoa. Além de nos ajudar a entender nossas histórias, esse teste também nos ajudará a cuidar da nossa saúde”, destacou.
Maurice Juniel com seu exame | Foto: Andreia Tavares/PMM
As amostras foram coletadas por meio de saliva. Também foram feitas medições como peso, altura, pressão arterial e glicemia. O objetivo é unir saúde, ciência e história, fortalecendo o sentimento de identidade, pertencimento e orgulho das raízes africanas que ajudam a formar a cultura e a sociedade amapaense.
Mas o que é DNA e como saber mais sobre ele ajuda a prevenir doenças?
Nosso corpo é como uma enorme fábrica, com máquinas que fazem tudo funcionar: desde o bater do coração até o crescimento do cabelo. Essa fábrica precisa de um manual de instruções. Esse manual é o DNA.
O DNA é como um grande guia que traz todas as instruções para construir e manter o corpo humano. Ele diz de que cor serão seus olhos, como será seu sistema imunológico e até como seu corpo reage a certos alimentos ou medicamentos. Esse “manual” é único para cada pessoa.
E como isso ajuda a prevenir doenças?
Saber como está o seu DNA é como folhear esse manual antes que uma peça da fábrica quebre. Com a tecnologia atual, é possível ler o DNA de alguém e identificar se há alguma instrução com erro.
Esses “erros” são chamados de mutações genéticas, e alguns deles podem aumentar o risco de doenças como câncer, diabetes, Alzheimer ou doenças cardíacas.
Por exemplo, se no seu DNA aparece uma mutação que indica maior risco de ter câncer de mama, você e seus médicos podem se preparar antes que a doença apareça, com exames mais frequentes, mudanças no estilo de vida e até tratamentos preventivos.
Esse é justamente o objetivo da pesquisa. A pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Kelly Nunes, responsável pelo estudo, comenta os benefícios. “Com essa pesquisa, a gente consegue mapear e prever as doenças que podem ser mais comuns na cidade e como podemos nos adaptar para que sejam tratadas”, disse.
Kelly Nunes | Foto: Andreia Tavares /PMM
Galeria de imagens | Fotos: Andréia Tavares/PMM